Gangs espalham terror na Linha de Sintra
Gangs espalham terror na Linha de Sintra
Seis pastelarias foram assaltadas, entre o Cacém e Queluz, em apenas dez dias. Donos, funcionários e clientes são ameaçados com pistolas e caçadeiras. Tudo gravado em imagens chocantes a que o CM teve acesso.
Criminalidade na Grande Lisboa- Gangs lançam terror na Linha de Sintra
Mão no bolso, olhar em volta. Passo lento até ao balcão. Silêncio de cortar. “O que é que vai ser?”, arrisca o funcionário. Máscaras na boca, os capuzes na cabeça, rostos fechados. Não restam dúvidas. “Nada. É só um assalto”, já de pistolas em riste. À cabeça da vítima. Os clientes reféns, uma mulher desmaiada, a registadora no chão. Cerca de 600 euros para quatro homens em fuga. Num minuto e meio. Mais uma das seis pastelarias roubadas, à mão armada, de 4 a 14 deste mês na Linha de Sintra. Tudo num raio de 5 quilómetros. Já a PSP estava na pastelaria X, Cacém, que o CM não identifica apesar do acesso à videovigilância, quando os quatro roubavam o café em frente.
Muitos “são miúdos, 17, 18, 19 anos”. A expressão por detrás das armas não mente. E pouco passava das 20h20 de dia 10, uma segunda-feira, quando o bando saiu da pastelaria X e entrou no café em frente. “Já a polícia cá estava, ninguém deu por nada”. Apanharam logo uma rapariga sozinha ao balcão, não chegou a abrir a boca e levaram-lhe tudo o que tinha. Quando conseguiu gritar já os quatro arrancavam num carro encarnado e que “toda a gente conhece”, lamenta ao CM um vizinho.
Queluz, 7 de Março, 22h30. Quatro homens armados atacam a caixa da pastelaria Y em minuto e meio. O pânico instala-se ali mas também em Monte Abraão, “e praticamente ao mesmo tempo”, por outro gang. Mas este de cinco. E com ameaças de morte. Recuamos três noites, até ao Cacém. Um casal de idosos, com um café pequeno no bairro da Anta. “Foi-se todo o dinheiro que tinham guardado para os fornecedores” e acabaram agredidos. “Estendidos no chão” do seu café.
Em Queluz, 7 de Março, os quatro entraram de caçadeiras em punho. Um de vigia à porta; outro de arma apontada à cabeça de uma funcionária; dois a salto por cima do balcão em direcção à caixa registadora. Lá dentro, sentados às mesas, um cliente quase não tira os olhos das linhas do jornal; outro conta moedas para pagar o café. “É preciso saber viver na Linha de Sintra, porque infelizmente para quem cá vive isto já é mais uma questão de hábito do que de outra coisa...”
A fechar, já no dia 14, última sexta-feira, uma pastelaria também em Queluz, mas agora na zona do Alto dos Moinhos. A sexta em dez dias, “indiferentes à videovigilância”. Na prática, ninguém identificado nas imagens, zero detenções com recurso à videovigilância. As imagens a que o CM teve acesso, fornecidas pelas vítimas, dizem respeito a dois assaltos, desfasados em três dias, entre Queluz e o Cacém. Pelas roupas, sobretudo uma camisola às riscas e com capuz, é possível arriscar que pelo menos um dos assaltantes, jovem, ataca nestas duas pastelarias. Numa leva a pistola 6,35 mm; na outra chega de caçadeira em punho ao café.
40 ROUBOS NUMA SEMANA
Seis pastelarias em dez dias, apenas na Linha de Sintra, “só surpreende pela obsessão das pastelarias”, garante uma fonte policial. Porque numa semana recente de prevenção da secção de roubos da Polícia Judiciária terão sido contabilizados “40 assaltos à mão armada”, apenas na zona metropolitana de Lisboa. “Há comerciantes a querer fechar mais cedo, têm perdido clientela depois das 20h00. As pessoas têm medo de sair à rua”, diz o dono de um café. “Por mais que se invista na videovigilância, com avisos à porta para as câmaras, eles entram de cara tapada e não demonstram qualquer receio – parecem ter a sensação de total impunidade”, lamenta o comerciante do Cacém.
"REFORÇO DE INTERVENÇÃO" (Leonel Carvalho, secretário-geral do Gabinete Coordenador de Segurança)
Correio da Manhã – Tinha conhecimento desta vaga de crimes violentos, nas últimas semanas, na Linha de Sintra?
Leonel Carvalho – Ainda não há dados trabalhados no que diz respeito às áreas de Cascais e Linha de Sintra. São números que, para já, estão com a PSP. É uma zona sensível, mas também Loures, Almada, Barreiro, Montijo ou o Sul do concelho de Vila Franca estão sinalizados.
– Seis assaltos a cafés, em dez dias e num raio de cinco quilómetros, é preocupante.
– Está previsto o reforço de patrulhamento. Mais visibilidade policial, aumento de agentes. E também em relação ao posicionamento de efectivos e reforço de unidades de intervenção.
7801 CRIMES COM VIOLÊNCIA EM 2007
A Comando de Lisboa da PSP – que abrange os concelhos de Lisboa, Oeiras, Cascais, Sintra, Amadora, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Torres Vedras – registou, no ano passado, 7801 crimes violentos, uma descida de 20,7% face aos 9839 casos ocorridos em 2006. Os dados foram avançados pelo superintendente-chefe Guedes da Silva, comandante metropolitano, no dia em que o comando celebrava 141 anos. Em sentido contrário foi a realização de operações policiais. Em 2007, “e em grande medida por causa da operação de policiamento da Presidência Portuguesa da União Europeia”, foram realizadas 5108 operações, o dobro em relação a 2006. O ano passado terminou com 10 804 pessoas presas, apenas na área do comando de Lisboa. Para 2008, o superintendente- -chefe Guedes da Silva prometeu pelo menos cinco grandes operações de combate à proliferação de armas ilegais em vários pontos do comando.
MEDIDAS PELA SEGURANÇA
1- Reforço de efectivos
Entrada de dois mil agentes, mil para a PSP e mil para GNR.
2- Formação policial
Mais carreiras de tiro, 9 mil armas e cursos legislativos.
3- Patrulhas nos bairros
PSP e GNR reforçam patrulhas nos bairros mais críticos.
4- Mais videovigilância
Alargar a videovigilância às zonas que a pedirem.
5- Sinalizar viaturas de risco
Carrinhas de transporte de valores sinalizadas.
6- Investigação centralizada
Secretário-geral vai centralizar trabalho das polícias.
7- Punir segurança ilícita
Criminalizar o exercício ilícito da segurança privada.
8- Polícia Municipal
Polícias municipais serão dotadas de mais armas e coletes.
9- Estudar crime juvenil
Criar observatório de estudo da delinquência juvenil.
10- Contratos de segurança
Governo e câmaras assinam contratos locais de segurança.
NOTAS
ATAQUES AOS COMBOIOS
Os assaltos nos comboios da Linha de Sintra também são frequentes, por jovens de bairros problemáticos de Amadora, Queluz, Rio de Mouro e Mem-Martins.
OURIVESARIA E UMA PERFUMARIA
Os assaltos nos comboios da Linha de Sintra também são frequentes, por jovens de bairros problemáticos de Amadora, Queluz, Rio de Mouro e Mem-Martins.
CRIMES VIOLENTOS
Os crimes violentos representam 6% do total da criminalidade geral, onde o crime mais registado é o furto de viaturas.
REFORÇO NAS CIDADES
Nos grandes centros urbanos têm sido reforçadas as unidades de intervenção para uma maior rapidez de resposta.
POLÍCIA MAIS PRÓXIMA
No âmbito do policiamento de proximidade, a PSP tem procurado aumentar o número de patrulhas a pé e motorizadas.
190 MIL QUEIXAS
Em 2007, foram apresentadas 190 661 queixas de crimes na PSP. Em 2006 o valor foi semelhante (190 718). Henrique Machado / J.C.R.
Muitos “são miúdos, 17, 18, 19 anos”. A expressão por detrás das armas não mente. E pouco passava das 20h20 de dia 10, uma segunda-feira, quando o bando saiu da pastelaria X e entrou no café em frente. “Já a polícia cá estava, ninguém deu por nada”. Apanharam logo uma rapariga sozinha ao balcão, não chegou a abrir a boca e levaram-lhe tudo o que tinha. Quando conseguiu gritar já os quatro arrancavam num carro encarnado e que “toda a gente conhece”, lamenta ao CM um vizinho.
Queluz, 7 de Março, 22h30. Quatro homens armados atacam a caixa da pastelaria Y em minuto e meio. O pânico instala-se ali mas também em Monte Abraão, “e praticamente ao mesmo tempo”, por outro gang. Mas este de cinco. E com ameaças de morte. Recuamos três noites, até ao Cacém. Um casal de idosos, com um café pequeno no bairro da Anta. “Foi-se todo o dinheiro que tinham guardado para os fornecedores” e acabaram agredidos. “Estendidos no chão” do seu café.
Em Queluz, 7 de Março, os quatro entraram de caçadeiras em punho. Um de vigia à porta; outro de arma apontada à cabeça de uma funcionária; dois a salto por cima do balcão em direcção à caixa registadora. Lá dentro, sentados às mesas, um cliente quase não tira os olhos das linhas do jornal; outro conta moedas para pagar o café. “É preciso saber viver na Linha de Sintra, porque infelizmente para quem cá vive isto já é mais uma questão de hábito do que de outra coisa...”
A fechar, já no dia 14, última sexta-feira, uma pastelaria também em Queluz, mas agora na zona do Alto dos Moinhos. A sexta em dez dias, “indiferentes à videovigilância”. Na prática, ninguém identificado nas imagens, zero detenções com recurso à videovigilância. As imagens a que o CM teve acesso, fornecidas pelas vítimas, dizem respeito a dois assaltos, desfasados em três dias, entre Queluz e o Cacém. Pelas roupas, sobretudo uma camisola às riscas e com capuz, é possível arriscar que pelo menos um dos assaltantes, jovem, ataca nestas duas pastelarias. Numa leva a pistola 6,35 mm; na outra chega de caçadeira em punho ao café.
40 ROUBOS NUMA SEMANA
Seis pastelarias em dez dias, apenas na Linha de Sintra, “só surpreende pela obsessão das pastelarias”, garante uma fonte policial. Porque numa semana recente de prevenção da secção de roubos da Polícia Judiciária terão sido contabilizados “40 assaltos à mão armada”, apenas na zona metropolitana de Lisboa. “Há comerciantes a querer fechar mais cedo, têm perdido clientela depois das 20h00. As pessoas têm medo de sair à rua”, diz o dono de um café. “Por mais que se invista na videovigilância, com avisos à porta para as câmaras, eles entram de cara tapada e não demonstram qualquer receio – parecem ter a sensação de total impunidade”, lamenta o comerciante do Cacém.
"REFORÇO DE INTERVENÇÃO" (Leonel Carvalho, secretário-geral do Gabinete Coordenador de Segurança)
Correio da Manhã – Tinha conhecimento desta vaga de crimes violentos, nas últimas semanas, na Linha de Sintra?
Leonel Carvalho – Ainda não há dados trabalhados no que diz respeito às áreas de Cascais e Linha de Sintra. São números que, para já, estão com a PSP. É uma zona sensível, mas também Loures, Almada, Barreiro, Montijo ou o Sul do concelho de Vila Franca estão sinalizados.
– Seis assaltos a cafés, em dez dias e num raio de cinco quilómetros, é preocupante.
– Está previsto o reforço de patrulhamento. Mais visibilidade policial, aumento de agentes. E também em relação ao posicionamento de efectivos e reforço de unidades de intervenção.
7801 CRIMES COM VIOLÊNCIA EM 2007
A Comando de Lisboa da PSP – que abrange os concelhos de Lisboa, Oeiras, Cascais, Sintra, Amadora, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Torres Vedras – registou, no ano passado, 7801 crimes violentos, uma descida de 20,7% face aos 9839 casos ocorridos em 2006. Os dados foram avançados pelo superintendente-chefe Guedes da Silva, comandante metropolitano, no dia em que o comando celebrava 141 anos. Em sentido contrário foi a realização de operações policiais. Em 2007, “e em grande medida por causa da operação de policiamento da Presidência Portuguesa da União Europeia”, foram realizadas 5108 operações, o dobro em relação a 2006. O ano passado terminou com 10 804 pessoas presas, apenas na área do comando de Lisboa. Para 2008, o superintendente- -chefe Guedes da Silva prometeu pelo menos cinco grandes operações de combate à proliferação de armas ilegais em vários pontos do comando.
MEDIDAS PELA SEGURANÇA
1- Reforço de efectivos
Entrada de dois mil agentes, mil para a PSP e mil para GNR.
2- Formação policial
Mais carreiras de tiro, 9 mil armas e cursos legislativos.
3- Patrulhas nos bairros
PSP e GNR reforçam patrulhas nos bairros mais críticos.
4- Mais videovigilância
Alargar a videovigilância às zonas que a pedirem.
5- Sinalizar viaturas de risco
Carrinhas de transporte de valores sinalizadas.
6- Investigação centralizada
Secretário-geral vai centralizar trabalho das polícias.
7- Punir segurança ilícita
Criminalizar o exercício ilícito da segurança privada.
8- Polícia Municipal
Polícias municipais serão dotadas de mais armas e coletes.
9- Estudar crime juvenil
Criar observatório de estudo da delinquência juvenil.
10- Contratos de segurança
Governo e câmaras assinam contratos locais de segurança.
NOTAS
ATAQUES AOS COMBOIOS
Os assaltos nos comboios da Linha de Sintra também são frequentes, por jovens de bairros problemáticos de Amadora, Queluz, Rio de Mouro e Mem-Martins.
OURIVESARIA E UMA PERFUMARIA
Os assaltos nos comboios da Linha de Sintra também são frequentes, por jovens de bairros problemáticos de Amadora, Queluz, Rio de Mouro e Mem-Martins.
CRIMES VIOLENTOS
Os crimes violentos representam 6% do total da criminalidade geral, onde o crime mais registado é o furto de viaturas.
REFORÇO NAS CIDADES
Nos grandes centros urbanos têm sido reforçadas as unidades de intervenção para uma maior rapidez de resposta.
POLÍCIA MAIS PRÓXIMA
No âmbito do policiamento de proximidade, a PSP tem procurado aumentar o número de patrulhas a pé e motorizadas.
190 MIL QUEIXAS
Em 2007, foram apresentadas 190 661 queixas de crimes na PSP. Em 2006 o valor foi semelhante (190 718). Henrique Machado / J.C.R.
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